Ficou muito claro que a Supercopa poderia ter tomado o caminho do Rio ou de São Paulo, após um ótimo jogo que teve períodos um pouco mais prolongados de domínio do Palmeiras e chances mais claras do Flamengo. Mas após uma partida assim, o mais produtivo é tentar entender o que o futebol brasileiro pode aprender com esta decisão, que proveito pode tirar.
A receita costuma começar com clubes estruturados e capazes de atrair e reter bons jogadores. O jogo de Brasília tinha uma grande concentração de talentos. Depois, estes jogadores precisam de um bom gramado, um mínimo descanso entre as temporadas, treino e recuperação entre jogos. O clássico deste domingo preenchia boa parte destes requisitos, embora o Palmeiras tenha trabalhado menos tempo com seu elenco completo e com seu treinador presente. Ainda assim, o Mané Garrincha testemunhou que, quanto mais racionalidade se der à gestão do nosso futebol, mais fácil será produzir espetáculos melhores.
O resultado foram 45 minutos do mais europeu dos jogos brasileiros. Ao menos no que diz respeito a fatores como negação de espaços, intensidade e rapidez de reação sempre que a bola mudava de dono, ou seja, a cada vez que um dos times precisava passar da posição de ataque para a de defesa. Neste último aspecto, o Palmeiras sobressaía ao contragolpear. No manejo da bola em posses mais longas, o Flamengo era superior.
Tudo isso, claro, executado por ótimos jogadores: o grande gol de Raphael Veiga após o erro de Diego Alves, a jogada de Filipe Luís no 1 a 1 de Gabigol ou a brilhante solução de Arrascaeta para construir a virada do Flamengo antes do intervalo. Sem falar no espetáculo que os goleiros ofereceram na decisão por pênaltis. Com o passar dos minutos, fosse por um Flamengo mais cuidadoso no segundo tempo, por um Palmeiras com menos espaço para contra-atacar ou até pela queda física de um jogo sob sol na manhã de Brasília, o ritmo dos dois lados caiu muito nos 45 minutos finais.
Mas é útil também avaliar o que os rivais levam da decisão, além da taça que o Flamengo terá em sua bagagem. Embora derrotado, o Palmeiras teve oportunidades e grandes virtudes. Em especial ao conduzir o jogo para seu terreno favorito: os ataques rápidos que expunham a dificuldade do Flamengo para proteger sua linha de defesa após a perda da bola. No segundo tempo, ainda que fora de seu terreno mais confortável, o time criou chances contra um rival mais recuado em busca de se proteger. Em especial após a ótima entrada de Danilo.
Por outro lado, é curioso como o Palmeiras, embora se sinta à vontade no jogo de contra-ataque, fez o segundo jogo seguido em que mostrou dificuldades para defender mais perto de seu gol. Em especial entre linha de defesa e volantes, permitia a circulação de jogadores rubro-negros, como já acontecera na Argentina. E apesar das chances criadas na segunda etapa, ainda está claro o quanto a equipe de Abel Ferreira se vê mais confortável ao poder jogar em velocidade.
Já o Flamengo, sempre que teve o controle da bola, criou as oportunidades da forma a que se propunha. Talvez não tenha, em quantidade, tantas opções de elenco quanto o Palmeiras. No entanto, tem os maiores talentos do confronto, jogadores que estão uma prateleira acima. Chama a atenção a forma como consegue, ao construir desde a defesa, fazer o jogo fluir até a bola chegar aos atacantes. Neste domingo, Filipe Luís foi especialmente bem ao fazer a saída de bola e ao se aproximar do ataque.
Só que, embora campeão, o rubro-negro deixa Brasília com decisões importantes a tomar. É habitual dizer que o futebol é um cobertor curto: decisões que fortalecem um aspecto do jogo podem também enfraquecer outros. É o caso da opção por Willian Arão na zaga e as consequências que ela cria. O ex-volante tem sido muito eficiente na saída de bola, mas há uma reação em cadeia no time que merece atenção. É verdade que Diego vem colecionando muitos bons momentos, mas a formação com ele e Gérson no meio, somada à presença de meias com as características de Éverton Ribeiro e Arrascaeta, por vezes desequilibra o time em jogos de exigência mais alta. O Flamengo tem ótimas passagens em que consegue pressionar no ataque e evitar expor sua defesa, mas o desempenho não é linear em partidas de mais físicas.
Fonte:Ge
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